sábado, 22 de maio de 2010

Manifesto à Loucura



Em primeiro lugar, quero declarar-me louco.
Quero deixar para depois qualquer ato de sanidade.
Não quero que me acompanhe a sensatez nem a razão.
Nada de lucidez nem claridade.
E aonde quer que eu vá, que seja olhado com desconfiança
por todos aqueles que se julgam normais.
No mais, ser louco é mesmo atingir o cimo da liberdade.
Se eu quisesse gritar, gritar muito, gritar até perder a voz,
quem pensaria em me fazer parar?
E se eu quisesse fazer mangoças e rir até perder o fôlego?
Se quisesse mentir a todos e criasse o meu próprio mundo,
onde fosse advertido pelo Ministério da Loucura
que ser normal fosse "prejudicial à saúde"?
Onde o lar de todo cidadão fosse um manicômio
e amar fosse matéria obrigatória em todas as escolas,
uma vez que a paz faria parte do patrimônio comum.
Não haveria governadores no meu mundo muito louco,
apenas artistas.
Ao invés do exército, o Teatro nas ruas para que todo mundo visse
e encenasse seus próprios personagens, vivesse o papel que lhe conviesse,
ao seu modo e somente pelo inenarrável prazer de ser exatamente aquilo
que na realidade não se pode ser.
Os músicos também estariam por todas as partes,
sempre acompanhados por um batalhão de dançarinos.
E, como estou falando de todas as artes,
não poderiam faltar os Poetas, Escritores, Escultores, Pintores, Forógrafos e
Artesãos, sempre prontos para registrarem a todos os movimentos
com seus lápis, pincéis, entalhedeiras, flashes e formões.
No meu mundo seria assim: não haveria sermões.
Nenhuma frase imperativa senão Viva! Ria! Ame! Liberte-se!
Repressão e camisas-de-força não existiriam lá, também.
Então, o que você está esperando?
Aceite o convite da loucura.
Viva ao menos no mais profundo íntimo do seu senso,
mesmo nos recônditos da sua lucidez, um momento insano.
Aliene-se.
Porque do jeito como este mundo esta indo,
do jeito como você tem vivido,
a "Indesejável das gentes" lhe está sorrindo
e você corre um sério risco
de não ter mais tempo para isso.


Marcos Alderico
10/06/2005
12:34h

P.S.: Escrevi esta poesia no meio de um princípio de enfarto causado por um dia de estresse. Estava na enfermaria, já medicado...e pensando na vida.

5 comentários:

  1. No minimo o silencio que cantas

    é o barulho que não se pode conter

    Os versos sem rimas nem mantas

    de calores e vegonhas que não se quer esconder


    Escolhe a vida de amor qualquer

    Dispensa a lucidez que atormenta tantos

    Desvenda os males que se tem e quer

    grita teus versos que são mais encantos


    Rendidos e ditosos versos se esparramam!

    Apenas palavras que nem dizem nem amam!

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  2. Devias mesmo é INFARTAR mais vezes

    se de teus tormentos tão belas palavras se salvam...

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  3. Não bastace esse texto maravilhoso, ainda tem as palavras da poetisa acima.

    Tudo é muito inspirador!

    Cheguei aqui pelo blog da Valquiria e não consegui parar de ler.

    Estou seguindo seu blog ok?


    Um abração.

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  4. Valeu, Rita! É umprazer recebê-la neste espaço todo dedicado aos amantes da Poesia. Seja bem-vinda!

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  5. Sei de lágrimas tolas... estas rolam de manso
    Envergam nos deleites da alma, e acalma
    A nós, virtuosos e empatuados...
    Poetas, imortais e amados!!!

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