Editoriais

Um cântico ao Sol no Sul de Mato Grosso

Lentamente vem o sol acariciando as paredes mal caiadas da minha casa. Começa lambendo as bromélias, que explodem coloridas do meio dos musgos, até atingir, já quentinho, a janela do meu quarto, por onde entra e me beija com hálito de flores. A principio, uma incômoda sensação desvirginal aos meus olhos. Em seguida, só prazer. Agora ele já se faz alto, como a tudo o que o toca – Alguma vez você já percebeu o quanto o Sol nos faz maiores nas manhãs banhadas por sua imaculada luz dourada? – Neste instante dever estar se banhando nas águas do Paraguai, do Araguai, descendo brejos, subindo serras, os corixos em festa. Ouvindo com muita atenção, assim, bem de pertinho, podemos até ouvir os gritinhos ainda verdes dos musgos, enaltecendo o rei, como uma multidão gritando: gol! É isto! Uma multidão de musgos pentacampeão! Sim, afinal, estou falando de musgos brasileiros. O verde dos musgos e o amrelo do Sol, que linda combinação! E essa magnífica combinação se espalha por toda esta nação que vai sendo lentamente acariciada pelo mais belo dentre todos os astros. E como eu vou com ele, aproveitando-me da investidura das prerrogativas atribuídas somente aos poetas, posso descrever o que de mais belo há na exuberância da natureza daqui de baixo do Equador: a mulher. E como já disse um Poeta lá das bandas do Mato grosso, aqui do lado de baixo não existe pecado. Pro assim ser, então eu as descreverei, não as óbvias, artificiais, com suas fragrâncias francesas, e suas peles que, de tão claras e empoadas, mais parecem estátuas de mármores, com seus narizes sempre afunilados em direção à Zênite, mas as que têm no âmago das suas almas simplesmente a plenitude de serem mulheres, sem qualquer constrangimento. Na desvergonha do meu voyeurismo  observo seios fartos aleitando crianças em uma doação que é um exemplo do próprio Sol, que se dá sem nada esperar em troca. Depois posso vê-las pelos riachos, cacimbas, bicas, ou mesmo nos tanques, nos fundos dos quintais, a lavarem as roupas que cobrem as nossas vergonhas. Neste momento estou desvencilhado delas, pois, para acompanhar o Sol é imprescindível estar despido da matéria. E por assim estar, posso vê-las estendendo nos varais coisa que já nem sei dizer o quê, tamanha é a beleza de suas ancas nas silhueta que se me apresenta aos olhos, graças ao transpor do Sol pelo fino tecido de seus vestidos colados em seus corpos por uma mistura de água e suor e que trazem, já perenemente, um agradável cheiro de lavanda e alfazema. Seus colos pulsam paixão. Seus ventres requerem afeto. E ao sacudirem as peças molhadas, erguendo-as e em seguida batendo-as no ar, fazem, sem perceber, uma reverência a ele, ao Sol, que as bronzeia, tornando-as mais maduras, mais belas, mais mulheres, preparando-as para entregá-las, no fim do dia, aos seus homens que, não menos vistosos e cansados, vêm para reclamá-las. É hora de retornar. O Sol já se faz distante. Na sua despedida, silêncio. Num último espasmo de beleza, torna-se a seus súditos, prometendo-lhes amanhã voltar. Lá do horizonte, acena. É o pôr-do-Sol, que é ainda mais “Bonito” visto daqui do Sul do Mato Grosso.




 Marcos Alderico
  21/07/2002



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DEUS É SHOW DE BOLA
Tenho uma relação muito legal com Deus. Sempre nos encontramos em situações bem legais. Algumas vezes já fomos a alguns estádios assistir clássicos de futebol. Deus gosta dos clássicos, embora não torça para time algum, afinal, como Ele mesmo diz, "todos pedem Minha torcida e, como Eu não a posso dar a um único time, também não posso torcer contra". Mas admite que tem por um, em especial, e por sua torcida, também, uma certa simpatia. É pelo Corinthians, pelo Timão. Disse-me que o Corinthians nunca foi campeão da Libertadores para que a soberba não torne seus torcedores - milhões de pessoas apaixonadas, pais de família, trabalhadores, mulheres, crianças, idosos, alegres, felizes e, sobretudo, fiéis - em arrogantes torcedores inclinados somente à vitória, sem a qual parece que a vida não existe. Ele me disse que é preciso saber dar valor à vitória, sim, mas estar preparado para a derrota, que é o melhor treino para a superação. E superação é o sobrenome do Brasil.
Por falar nisso, dias atrás levei um enorme susto. Bem no meio de uma partida Ele, subitamente, saiu correndo. Disse-me, atendendo o seu celular, apressado: - "Estão Me chamando. Já volto. Pegue. Fique com as minhas fichas de cervejas, mas não tome todas, heim? E, se beber, não dirija!" - Tudo bem, eu estava de táxi - "Volto a tempo de assistir ao término do segundo tempo". E saiu. Em pouco tempo retornou e disse: "Poxa, aconteceu o que eu temia já a muito tempo. Houve um deslizamento em Niterói e muitas vidas se foram. É uma pena que aqui no Brasil, onde renderam-Me tão bela homenagem, erguendo em Meu nome, no mais alto e belo lugar deste solo, de braços abertos, majestosa imagem, tenha que haver esses tipos de acidentes. Mas é uma forma de alerta aos dirigentes desta nação. Infelizmente, é necessário que muitos pereçam para acordar a sociedade para que se una contra as intempéries e contra aqueles que só pensam nos próprios benefícios. Era notório que aquilo iria acontecer, mais cedo ou mais tarde". Fiquei apreensivo, mas Ele disse que havia uma falange de anjos empenhados em salvar algumas vidas do meio daquela situação. Disse-me que aqueles anjos nem sabiam que o são e que as pessoas que haviam sido levadas estavam bem. Estavam sendo esperadas e eram tratadas com todo o carinho e recebendo todos os cuidados. Os que aqui ficaram devem ter por exemplo de que o que é errado não se deve ser praticado e, mais ainda, que àqueles que cometeram o maior dos erros, aqueles que tinham o poder público nas mãos para impedir tal tragédia, deve-se marcar como não confiáveis. Devem ser deletados. "Esse povo...um dia eles aprendem". Aí eu perguntei se Ele não poderia ter evitado aquela situação, ao que Ele me respondeu: "Fiz o que pude. Coloquei nas cabeças humanas uma inteligência criadora de técnicas e equipamentos, capaz de compreender o tempo, através da História, de dominar a Geografia, conhecer os solos, curar aos seus semelhantes, criei, lá na Grécia, em parceria com outro grande amigo, o Sócrates, a Ética, mas, alguns homens não entenderam e se utilizaram das capacidade que Eu lhes dei para criar conflitos e dominar uns aos outros, visando apenas o poder, querendo se igualar a Mim. E olhe-Me: estou aqui, sentando numa arquibancada assistindo ao futebol com você e com todos que aqui estão manifestando sua fé em Mim, muito mais do que se estivessem numa igreja. Conflituoso, não é? Mas, no momento em que um jogador marca um gol, sai correndo, se ajoelha e aponta seus indicadores para o céu, oferecendo-me o seu feito (e olha que Eu já disse que não participo disso), todos alinham seus pensamentos em gratidão a Mim. Posso dizer que é das maiores dedicações de fé que Eu recebo. Eu os criei minha imagem e semelhança, mas gosto de ser Eu também a imagem e semelhança de vocês. Também sou alegre, também tenho meus momentos de felicidade, de alegria. Não sei por que tenho que ser entendido como aquele velhinho carrancudo e sem graça, perseguidor e vingativo. Criei e gosto muito da vida. Mas, voltando ao assunto, com toda a capacidade técnica, porém sem a Ética, os governantes permitiram que as pessoas fossem se instalando por ali, mesmo sabendo-se dos riscos. Ai...deu no que deu. Eu me importo, sim, com suas vidas, mas devo deixá-los aprender como vivê-las".
"Olha lá!! Vai ser gol! Goooooooooooool! Goooooooooool! Gooooooooooooool"! De quem? – perguntei-Lhe. "Não sei" – respondeu-me – "não me importo com isso. Gosto mesmo é de ver o Meu povo feliz!!!"

Marcos Alderico

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