sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Breve rascunho de mim


Fiz-me do vento a brisa
Fui sombra à beiramar
Levado pelos raios do sol
Encontrei-me com a luz do luar

Deite-me à sombra do tempo
E nela pus-me a sonhar
Velado fui pela sorte
Amado fui pelo mar

Caminhei por todos os cantos
Andei onde pude sonhar
Levei comigo só um manto
Viajei sem sair do lugar

As águas que me beijavam
Do mar ou de um rio, eu não sei
Só sei que me refrescavam
Na água eu era um rei

Eu volto para lá, eu volto
Mas não para, enfim, ficar
Já sou elemento solto
Pertenço a este lugar.



Marcos Alderico
26/11/2010
11:24

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Alma das Flores


Num dia daqueles em que o mundo parece parar, em que as horas cessam seu caminhar e se perenizam por todos os recônditos do ser, eu pude experimentar você. Não foi um dia comum posto que as flores houveram estado sem seu perfume habitual, elas o haviam emprestado a você, como a emprestaram, também, a sua maciez e a delicadeza de suas pétalas.
Deitei-me com você feito um beijaflor com a alma das flores. Sorvi-lhe o melhor do néctar, o mais doce, o mais puro e febril desejo. Suguei suas mais ocultas delícias. Na minha boca o mais perfeito significado de comer uma mulher. Comi-a posto que pude sentir cada nuance do seu gosto. Naquele momento, senti-me agraciado com o paladar dos deuses. Embeveci-me no torpor do seu suor, que me matou a sede. O suor da nuca, o suor das costas, o suor entre as ancas que me pediam desavergonhadamente que eu as lambesse como se fosse um cão sentindo o cheiro de cio de sua cadela. Não me fiz não escutar e obedeci aos seus clamores, afinal, não se deve contrariar aos amores...Fiz você sentir, todo o meu amor, todos os temores e, até, alguma dor. Enterrei-me em você como quem quer plantar uma floresta. Desenhei a planta do novo mundo, da nova ordem de amar, amar em tela, um quadro híbrido de tesão e pincéis, de estrelas e canetas, de papel e sussurros. Causei-lhe dor? Também a senti. Gostaria de não a ter deixado escapar e ter ido mais além, mais fundo, domá-la, dominá-la. Minha mão, segurando-a pela nuca nunca mais deveriam tê-la deixado se evadir de mim. Sua boca, qual o seu mistério? Não cheguei ao fundo da garganta que grita segredos e revela sua fúria. Meu melhor gozo guardei para você e o fiz para que você pudesse vê-lo...sobre seus pelos, espalhados por sobre seu cansaço. Dividi-me em sabores e o dividi com os seus num beijo longo e combinado...como é incrível como se combinam nossos beijos! O encaixe perfeito de pervertidas vontades, minha boca na sua, minhas coxas nas suas, pessoas nuas, nuas...na alvura do encontro de se amar. Movimentos lentos, loucos, brutos, aflitos, muitos, muitos, muitos...por horas, preso entre as paredes do seu ser, espremido, constrito, afogando-se em seu líquido tropical (quente e úmido). Perdi-me no tempo, mas o tempo de nada importa à eternidade do que nos sentidos ficou gravado e que me deixa até hoje apaixonado por você...

Marcos Alderico
16/11/2010
10:35

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Feito lagartixas


As ruas de Manaus, tantas vezes cruzadas...
Crivadas de mim mesmo, menino, moleque,
Puro sonho de se viver
Numa distância íntima da saudade

Tardes quentes e tempestades tropicais
Deliram dentro de mim
Encontram-me comigo mesmo
Como um encontro das mágoas

Grito uma pororoca de impropérios
Capazes de devastar um castelo de areia
Até amansar-me como banzeiro
E quebrar-me numa Praia da Lua

Escancaro-me,
Rasgo-me em versos
Sou versado na solidão de amar
Versátil na arte de me dar
Como as noites de luar
Ao reflexo do Rio Negro

Quantas vezes fui encantado
Pelo encontro das águas com as estrelas
Nas noites em que a natureza
Se confundia com beijos sob a luz da lua?
Nem contei...
Mas as luminárias quebradas
Sentem falta daquele menino apaixonado.
Elas pareciam nos espiar
E nos proteger sob seu manto negro e seguro
Por trás das árvores, encostados aos muros
Transando feito lagartixas
Num Amazonas distante qualquer...




Marcos Alderico
4/11/2010
14:52h