Amanheci com vontade de viver, de fazer coisas simples, de ler um livro, ouvir uma boa música, talvez um Rock, Nat King Cole ou Sinatra. 
Ainda vai dar sete horas da manhã. Será que tenho tempo para aprender a tocar guitarra, antes de servir o café da manhã na cama a quem eu amo?
Vou fazer uma torta, tirar o rangido da porta, consertar a gaveta do armário.
Até o meio-dia terei feito uma varredura dos meus defeitos prediletos.
Depois do almoço, vou ficar à frente da janela, observando a chuva. Farei pipocas para aproveitar esse momento. Na primavera, tudo é mais belo. Sentirei sono, mas ainda não será tempo de dormir.
Meus olhos precisam dos passarinhos, que dividem comigo as pitangas do quintal.
Quando a chuva passar, vou colher acerolas.
Estou certo do que ocorre aqui dentro. Dentro do meu ser. Lá fora tudo é incerto. É uma ilha deserta de sentimentos, cercada por uma multidão de ilusões.
Olhos sem visão, passos sem direção, músicas sem melodias, danças sem ritmo...Em breve, novamente será janeiro e seres racionais, ainda que nacionais-conterrâneos, vagueiam errôneos (buscando algo em meio de coisa alguma) por estradas sem fim. Becos sem saída.
Pela fresta que ainda me resta de mim mesmo, observo os parasitas deste paraíso de olho em Marte, como futuro novo Éden, enquanto destroem o meu planetinha azul.

Marcos Alderico

27/10/2018